sexta-feira, 23 de outubro de 2009


III Congresso Internacional de Imprensa Não Diária

O desafio digital e o negócio digital marcaram os trabalhos do Congresso que decorreu de 15 a 18 de Outubro na vila da Povoação, ilha de São Miguel, e onde se falou dos desenvolvimentos tecnológicos e do futuro do papel impresso.

John Forcucci, director de tecnologias da informação do jornal Boston Globe e Martim Avillez Figueiredo, director do jornal “i”,concentraram as suas intervenções nos desafios do futuro, não deixando, este último de desfazer o mito de que o mercado já se encontra preenchido, pois que, o necessário é ir ao encontro dos espaços preferenciais dos consumidores.

Na abertura do III Congresso Internacional da Imprensa Não Diária, sob o título «Imprensa no Século XXI» e na qual Tribuna das Ilhas esteve presente, Luís Landerset Cardoso, numa breve introdução aos trabalhos do Congresso, começou por salientar, no âmbito da “economia dos media”, a importância da eficiência na alocação dos recursos. Caracterizou ainda a “dualidade” dos produtos mediáticos, no que se refere aos respectivos conteúdos e à capacidade destes em gerarem audiências.

Foram abordadas as questões das “economias de escala” e das “economias de gama” e o importante contributo do digital na reformulação do negócio dos media.

O primeiro painel, subordinado ao tema “Negócio Digital – Desenvolvimentos Tecnológicos e o Futuro do Papel Impresso”, contou com a participação de Luís Landerset Cardoso, Carlos Correia, John Forcucci e Martim Avillez Figueiredo.

Carlos Correia, prosseguiu a reflexão em torno do negócio digital, apresentando uma breve linha diacrónica da evolução dos suportes da informação, com o objectivo de caracterizar as modalidades de negócio do modelo digital. O orador desenvolveu o tema incidindo sobre a importância que a estruturação de bases de dados assume, desde que sobre elas seja implantado o sistema de “data mining”, ou seja de relação entre o perfil dos utilizadores e a massa de informação por eles consultada. Citou o exemplo do modelo de negócio proposto pela Google como um cenário possível para ultrapassar a crise em curso.

Entretanto John Forcucci trouxe à reflexão o exemplo do conjunto de boas práticas digitais que o jornal norte-americano “Boston Globe” assume há já vários anos: a estruturação das múltiplas bases de dados, associadas ao estabelecimento de uma rede social de leitores interessados numa real participação interactiva na maioria das secções da publicação, são – no entender do orador – a melhor forma de fidelizar audiências e de desmultiplicar o número de utilizadores interessados em usufruir do conjunto das potencialidades que a publicação lhes propõe.

Finalmente, Martim Avilez Figueiredo apresentou a estratégia de comunicação digital e sobre o papel que o novo jornal I decidiu assumir: dado que se trata da mais recente publicação editada em Portugal, o seu director enunciou os princípios que presidiram à sua fundação e operacionalização – desde a criação de uma marca de informação, à filosofia cross media, à contratação selectiva dos colaboradores interessados na cedência dos seus direitos intelectuais em favor da publicação. A interacção global e permanente das múltiplas plataformas em que a marca I actua é, na opinião de Martim Figueiredo, a fórmula para garantir um futuro equilibrado no negócio.

O segundo painel dedicado ao tema “O Digital e a Lusofonia” foi preenchido com intervenções e comentários, retratando opiniões e experiências vivenciais de José Carlos Vasconcelos, João Paulo Palha, Valter Duarte, Raúl Calane da Silva. Participou ainda Roberto Passos que descreveu a experiência do “Diário de Noticias da Madeira”, no mundo lusófono tendo pertencido a moderação de Henrique Pires Teixeira.

A lusofonia constitui um território imaterial partilhado por muitos milhões de cidadãos que nos quatro cantos do mundo se exprimem em língua portuguesa, e resulta de uma vivência comum de séculos. E superando essa essência de código de comunicação universal, traduz hoje uma comunidade plural de afectos, de valores, e de interesses comuns e recíprocos.

Importa assim de forma aberta e descomplexada intensificar e aprofundar, em todas as vertentes, os elos de ligação entre os espaços e os falantes da lusofonia, e continuar os esforços estratégicos da sua afirmação global. As plataformas digitais, complementando e potenciando os suportes tradicionais, constituem um poderoso instrumento de comunicação que reforça e amplia esses elos, sendo de saudar todas as iniciativas que nesse domínio se têm desenvolvido e que visam, mais do que isso, uma aproximação efectiva e consistente, no plano atomístico como no institucional, entre os membros da lusofonia.

Cumpre a todos exortar os poderes públicos integrantes do espaço da lusofonia para que incrementem as sinergias endógenas de uma língua comum e os esforços da sua universalização como veículo de diálogo, tolerância e cultura, e também ferramenta de trabalho.

No painel temático denominado “Conteúdos Online” participaram Paulo Martins e Pedro Fonseca, com a moderação de Luís Landerset Cardoso, que ao introduzir o tema, repropôs a problemática da promoção da eficiência na alocação dos recursos, e das suas implicações para o negócio em ambiente digital.

No âmbito da sua intervenção sobre “Produção Noticiosa em Ambiente Digital”, Paulo Martins ressaltou a necessidade da preservação dos valores inerentes ao jornalismo, mesmo em ambiente digital.

Foi salientada a ideia de que o digital abre as portas a um mundo novo, que deve ser encarado como oportunidade e não como ameaça, todavia, com respeito por princípios, tais como a observação das regras éticas e deontológicas, do rigoroso escrutínio dos contributos do público na produção noticiosa, da transparência na relação com o utilizador e, sobretudo, com preocupação de nunca apresentar como produtos jornalísticos, peças que na sua génese, nunca o foram.

Entretanto, na sua abordagem aos conteúdos online, Pedro Fonseca, considerou que a tecnologia não deve ser considerada como uma ameaça, mas antes sim como um desafio em que o jornalismo e a referida tecnologia têm necessidade de um entendimento mútuo.

A concorrência foi analisada sob um ponto de vista global, sendo que as empresas de media deverão preparar-se para um presente e futuro digitais, em ambiente de concorrência globalizante, mas de negócio local. Foi ainda ressaltada a necessidade de se obterem elevados níveis criativos, apoiados por qualidade na produção jornalística e no desenvolvimento tecnológico.

Por fim e no painel sobre a temática do “Negócio Digital”, intervieram Luís Miguel Fernandes e Vítor Rodrigues, com a moderação de Carlos Correia.

No âmbito da sua intervenção sobre “Redacções Online”, Luís Miguel Fernandes ressaltou a necessidade de serem consideradas novas competências multimédia nos jornalistas, bem como a indispensabilidade na criação de novas funções de apoio aos jornalistas na redacção.

Foi salientada a importância do efeito das redes sociais, bem como da necessária atenção que lhes deve ser dispensada.

Considerando que o Google está na base da mais importante origem de tráfego, foi acentuada a necessidade de os jornalistas serem sensibilizados e formados no que diz respeito à forma de escrita, nomeadamente no que se refere à introdução dos metadados, no sentido de incrementar o nível de utilizadores de conteúdos, via o referido acelerador.

Por fim, foi salientada a necessidade de criar novas formas de organização funcional na Redacção, de modo a optimizar o ambiente digital, cada vez mais influenciado pela Web 2.0.

No âmbito da sua intervenção sobre o “Negócio Digital – Oportunidades e Vantagens”, Vítor Rodrigues apontou um conjunto de soluções possíveis para a sustentabilidade do negócio, nomeadamente pela utilização de plataformas low cost, assentes em linguagem de programação estandartizadas e amplamente disponíveis no mercado. Sugeriu ainda que o cross media é possível e mesmo viável, através do reempacotamento de conteúdos multiplataforma, através da automatização de processos a partir de dados/informação de uma fonte centralizada, usando PHP, XML ou RSS para difusão de conteúdos.

A nível de modelo de gestão, este interveniente propôs que a liderança em ambiente digital deve estar presente desde o topo até à base da pirâmide da organização de media, com um empenhamento directo no sentido de orientar a totalidade da organização para os novos media. Apontou mesmo a necessária combinação de soluções, tanto de hardware como de software, tanto internas como em outsourcing. Foi salientado que estes recursos bem como investimento em plataformas e em recursos humanos, devem ser geridos por objectivos, com o máximo rigor e criteriosamente. Ainda em termos organizativos, foi salientado que o Director da publicação e cada jornalista, devem considerar-se como verdadeiros gestores de marca ou gestores de produto, ultrapassando largamente o actual suporte do seu título, seja ele papel ou audiovisual.

A problemática do financiamento do negócio digital foi abordada com a preocupação de deverem sempre ser consideradas uma diversidade de fontes, para além da publicidade, destacando-se a venda dos conteúdos.

Finalmente, Vítor Rodrigues apelou para a necessidade de o negócio digital ser desenvolvido na base das condicionantes internas das empresas de media, nomeadamente a nível de jornalistas e comerciais, sem todavia jamais se perder de vista a optimização dos produtos e serviços face aos motores de busca e redes sociais, com uma finalidade última de alcançar o leitor/utilizador.

Como encerramento, Carlos Correia frisou o importante contributo dos participantes, enquanto prova de boas práticas desenvolvidas em Portugal.

Foi um fim-de-semana de reflexão, debate e, sobretudo de partilha de saberes e experiência que em muito podem enriquecer os media da Região.

1 comentários:

amg disse...

veja se consegue ler a crónica do Miguel sousa Tavares no Expresso de 24Out sobre o tema «digital»...
cumptos