“A vulcanologia deve ser motivo de paixão e não de medo”

quinta-feira, 27 de setembro de 2007


Como viveu o Vulcão? Foi a questão lançada a Victor Hugo Forjaz que nos relatou as suas vivências a 27 de Setembro de 1975 ... “vivi como você vive a sua vida hoje... tinha 16 anos de idade e pedi ao meu pai, que era da junta geral, para ir com ele e, com grande espanto vi na minha frente o mar a ferver. Aquilo ficou para sempre na minha memória... a terra a tremer, a procissão.. gente a rezar... voltei aos tempos dos mistérios do Capelo e de Santa Luzia. Senti-me voltar séculos para trás.”
E continua dizendo, “entretanto fui crescendo e acompanhando com o Engenheiro Frederico Machado e o S. Faria Dinis, que foi um dos grandes topógrafos da nossa terra e um dos responsáveis pelos levantamentos mensais do Vulcão dos Capelinhos, outra das características do Vulcão, pois, enquanto os outros vulcões são avistados de lancha e aviões, os Capelinhos não... era ali fotografado de terra.”
Victor Hugo Forjaz prossegue o seu relato falando do “Chefe Avelar foi o chefe de Farol e é que manteve o Farol até ao dia da sua derrocada... manteve o farol acesso, fez o último aviso à navegação e tirou a óptica para que não se perdesse. Tudo isto fez com que o meu desejo de me tornar vulcanólogo crescesse e decidi avançar os meus estudos nesse sentido.”
De acordo com Victor Hugo Forjaz, “o Vulcão dos Capelinhos trouxe muitos benefícios para a ciência e aparece referido em todos os livros de ciência só que em 1957/58, a alma do vulcão, ou seja, o Engenheiro Frederico Machado (sem esquecer o Sr. Faria Dinis, auxiliados pelo Sr. Tomás Pacheco, a Foto Jacil, a Foto Rebelo, e a Foto Jovial); não quis registar o Vulcão, e as erupções em vez de se chamaram capelinianas passaram a chamar-se sartizianas”.

Carta geológica sintética do Vulcão dos Capelinhos

Numa iniciativa do Observatório Vulcanológico e Geotérmico dos Açores e com o apoio da Universidade de Aveiro, foi apresentada na nossa cidade a “Carta Geológica Sintética do Vulcão dos Capelinhos”.
Há dez anos atrás o observatório, de acordo com o seu presidente, o vulcanólogo Victor Hugo Forjaz, comemorou os 40 anos do vulcão “ para forçar o Governo da altura no sentido de construir um museu interpretativo na zona e recuperar o Farol. Fomos, há dez anos, a semente para este mega projecto. Quando nós temos paixões temos que pressionar, que lutar... para que as coisas vinguem. Fomos por muitas vezes incompreendidos, mas o Hélder Silva, enquanto Secretário do Ambiente deitou a mão ao tema, lançou os primeiros projectos.”
Instado a pronunciar-se sobre o Centro Interpretativo que está em construção Victor Hugo Forjaz diz que “se o centro for bem concebido e gerido poderá ser uma grande mais valia para a ilha e poderá ser um centro de atracção turística, e aí é que há divergência com outras pessoas... há quem julgue que o centro, sendo megalómano e grandioso vai trazer muitos turistas. Ora isto é um puro engano... os turistas não virão ao Faial só por causa do Vulcão dos Capelinhos, mas sim por tudo o que ela tem e pela sua relação de proximidade com o Triângulo.”
Este projecto é um projecto de alta qualidade em que a manutenção e a gestão vão ser decisivas no futuro. Estamos na ilha do Faial, não numa ilha de grande fluxo turístico, por isso há que ter em atenção todos esses aspectos” – sublinha o vulcanólogo que continua dizendo ao Tribuna que “Gostaria de fazer mais trabalhos científicos sobre o Vulcão dos Capelinhos mas não tem havido dinheiro para isso. É necessário vedar aquela zona, arranjar um guarda permanente e quem quiser ir ao vulcão tem que pagar. Quem pagar tem direito a um livro/guia. Não sou o polícia do vulcão, nem acho que o vulcão deva ser um jardim zoológico de ver de longe. É para se visitar mas com regras e devem ser criadas normas disciplinadoras para que quem lá vá, chegue duma maneira e saia de lá enriquecido, sem trazer de lá nada que não deva, como é o caso das bombas.”
“Antes do Vulcão dos Capelinhos houve um outro vulcão chamado o Costado da Nau, pelo que se depreende que os Capelinhos vão ser destruídos daqui a uns anos... mas é evidente que a tendência da ilha do Faial é crescer naquele alinhamento vulcânico. Os Açores são ilhas sismicamente muito instáveis, e nós estamos no chamado período dos nove anos, e portanto daqui a nove/dez anos vão surgir novas crises e importantes. Durante este século XXI vão ocorrer duas novas erupções, pelo menos” – explica este especialista.



Victor Hugo Lecoq de Lacerda Forjaz, nascido na Horta, Açores, em 1940. Vulcanólogo e Professor-associado do Departamento de Geociências da Universidade dos Açores (sigla UAç). É Presidente da Direcção do Observatório Vulcanológico e Geotérmico dos Açores (sigla OVGA). Engenheiro e Professor Dr. Frederico Machado. Estudou a erupção do Vulcão dos Capelinhos, na Ilha do Faial, e da Serreta, na Ilha Terceira.

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