Exposição de escultura - Al-zéi e os “Toques de Almenara”

quinta-feira, 26 de julho de 2007


Esta patente ao público até ao próximo dia 2 de Setembro, na Torre do Relógio, uma exposição de escultura de José Francisco Pereira, Al-Zéi, intitulada como “Toques de Almenara”.
Tribuna das Ilhas foi visitar a exposição e conversou com o artista, no sentido de apurar como surgiu esta paixão pelas pedras.
“A “culpada” por esta minha paixão é sem dúvida a Maria Eduarda, porque quando em Julho de 1998 viemos para os Açores apareceram umas pedras interessantes e eu comecei a trabalhá-las e ela disse que eu tinha jeito para aquilo... tinha eu já mais de cinquenta anos... já estava bem maduro... no entanto o gosto pelas pedras surgiu era eu ainda miúdo e se calhar o jeito manual também estava lá implícito...” – frisa Al-Zéi.
Para além do basalto Al-Zéi também já fez peças em Urze, “a urze, a planta endémica a que os locais chamam vassoura, e que trabalhada com a navalha faz trabalhos lindos”.
“O basalto dá luta e eu uso por princípio fazer a recolha dos materiais nas praias. Quando olho para o material vejo logo que forma é que lhe vou dar e depois é só delinear as formas que já lá estão...”- sublinha.
Questionado sobre o tempo que demora a fazer cada uma destas peças, o escultor diz-nos que, “varia muito... tenho lá um trabalho há mais de um ano que ainda não está maturado. Nesta exposição também havia um assim... que olhava e nunca tinha encontrado a resposta que faltava... antes da exposição olhei bem para o material em questão e finalizei o trabalho em questão”.
Al-zéi afirma que “a pedra diz-me o que fazer ... eu simplesmente faço notar as formas.” Quase todas as esculturas tem a cara humana gravada, “não é a face que retrato mas sim a expressão... a tentativa de nos mostrar. O professor Galopim de Carvalho esteve cá e disse-me que todas as pedras têm uma história.. se calhar a escultura é o finalizar da história dessa pedra, quem sabe...”
A primeira exposição de Al-zéi foi feita em São Jorge a quando as comemorações dos 500 anos da vila das Velas. Na ocasião a Maria Eduarda levou uma exposição de pintura e eu uma de escultura, “nessa exposição apareceu um Mestre que me marcou imenso, o Mestre João Abel, um homem já com oitentas e muitos anos, e que me disse que uma pessoa só saberia se tinha jeito para estas coisas ao fim de dez anos... ora eu ainda não tenho dez anos desta actividade, mas acho que já tenho alguns trabalhos com algum nível.”
O escultor já fez o registo da patente da “Basanita” e comercializa as suas peças, “ tenho peças por toda a parte do mundo... São Tomé e Príncipe, Alemanha, Canadá, Inglaterra, entre outros países... no Faial e no Continente também existe uma série delas”.
Instado a pronunciar-se sobre a peça que lhe deu mais gosto fazer, Al-zéi diz-nos que “é muito difícil responder a isso, se calhar será a próxima não sei... todas elas são especiais. Por exemplo um trabalho que fiz por encomenda e está em casa do Dr. Antero Furtado é um trabalho que me fascinou imenso. É uma pedra com quatro faces, e que tem representado o Sol, a Lua, o Espírito Santo e a Sabedoria. Em termos de grandiosidade, também pelo facto de ter mais de dois metros, é a mais representativa.”
Al-zéi, com a calma que lhe é característica, disse à nossa reportagem que, “tinha prometido a mim mesmo fazer exposições no Faial de cinco em cinco anos, mas, neste ano de 2007, esta é já a segunda e com perspectivas de uma terceira lá mais para final do ano. Já tenho uma agendada para Oeiras, no Peter Café Sport.”
José Francisco Pereira não tem uma forma para caracterizar os seus trabalhos, diz ao Tribuna que “deixo isso à consideração de cada um. Há quem diga quer é arte egípcia, mongol... uma coisa é certa, todas as pedras têm uma carga de serenidade muito grande e talvez seja esse o efeito que as pessoas vêem.”
Sobre “Toques de Almenara” o escultor refere que foi instintivo... “quando fui convidado a expor na Torre do Relógio fiquei reticente e exigi ver o espaço e que ele estivesse limpinho... tinha que ter em atenção que a monumentalidade da Torre não podia ser lesada porque ela por si só é o que traz as pessoas cá. Por outro lado a exposição tinha que ser discreta e que embelezasse o espaço. Foram então criadas peças que estão penduradas, estilo espanta-espíritos em que as pessoas podem tocar. Há ainda os Atlantes, os guardiães da Torre, que estão ao longe de toda a escadaria. “Toques de Almenara” por que quer dizer locais de comunicação, reflexão, contacto e a Torre reúne todas essas condições”.
Sobre esta exposição MER – Maria Eduarda Rosa – escreveu “no centro do Largo D. Luís I, nosso 32.º rei, em cujo reinado foi abolida a escravatura e a pena capital, eleva-se a Torre do Relógio onde Al-Zéi expõe, em basalto esculpidos, “Toques de Almenara”. O vocábulo “Toques” remete-nos de imediato para os sentidos do ouvido e do tacto. “Almenara”, do árabe al-manara que significa o lugar da luz, era o fogo que se fazia nas atalaias ou torres dos castelos para dar alarme de um perigo iminente. Logo “almenara” vem acrescentar a dimensão visual com função de alerta aos “toques” auditivos e tácteis.
Mas alertar para quê?
As esculturas de Al-zéi que nos espreitam dos diversos cantos daquele espaço desafiam-nos a passar da sombra à luz, olhando-as, tocando-as, ouvindo nelas a música do vento, à medida que, sem pressa, se vai subindo em espiral a torre, atalaia de luz onde, do cimo, se desfruta de uma magnífica paisagem sobre a Horta e a ilha montanha ao fundo do canal aquático.
Tão próximo o Jardim Florêncio com o seu coreto, a araucária e os dragoeiros, outrora convento de São João onde viveram clarissas pelos menos durante três séculos! Por detrás, o antigo hospital Walter Bensaúde, futuras instalações do DOP. Que excelente proximidade com o Largo D. Luís I, o rei apaixonado pela oceanografia!
O olhar sobrevoa a Praça da República com as duas gigantescas araucárias e o coreto, diluindo-se até ao Monte Queimado e ao Pico, e domina a igreja da Matriz e a Câmara Municipal desta ilha que já foi de São Luís ao qual muitos portugueses à nascença, tal como o infante D. Henrique, foram encomendados. Um derradeiro apelo: Toque estas esculturas com os olhos e ouça a ressonância da sua ígnea emanação”.




Em caixa:
José Francisco Pereira.
Escultor com o pseudónimo de Al-Zéi.
Natural de Montoito – Redondo – Alentejo
Participou em exposições:
2006: Maio a Agosto (18 a 13) “Itinerâncias”, Museu Regional da Horta, Faial.
2005: Maio a Junho (20 a 3) no Encontro ALMEIDA FIRMINO - da Planície à Ilha - Natureza, Cidadania e Turismo, no Capelo, Faial.
2003/2004: Novembro a Janeiro (20 a 4), com 2 trabalhos, na XIII Galeria Aberta 2003, em Beja.
2003: Setembro a Dezembro, itinerante, no Museu do Pico – Lajes e São Roque do Pico; Agosto (de 26 a 31) Colectiva “O NOVE” na Semana dos Baleeiros, Lajes do Pico - Açores; Julho (de 18 a 22), colectiva, na Festa de Santa Maria Madalena - Pico – Açores.
2002: Setembro (6, 7 e 8) Festa do Avante 2002 “Pavilhão dos Açores”; Julho (13 a 21) – Rostos Estivais, no Forte de S. Sebastião – Angústias – Horta – Faial; Julho (4 a 16) – Basanitas , nos Paços do Concelho da CMH – Horta – Faial; Junho (10 a 2) – Movimentos de Mar, na Fábrica da Baleia – Horta – Faial, durante os Encontros de Porto Pim; Maio/Abril(de 15 a 15) – Petiscos “12 propostas entre o prato e o joelho”, no Restaurante Capitólio – Horta – Faial.
2002/2001: Janeiro/Dezembro (de 15 a 15) – Colectiva, no Restaurante Capitólio – Horta – Faial.
2001: Junho/Maio (de 4 a 3) Participou na “Di-visões: uma exposição para os invisuais e para os outros”, no Quartel do Bom Pastor, no Porto Capital Europeia da Cultura; Abril/Março (de 24 a 8) – “Calhaus com Olhos”, Colectiva, na Casa da Cultura da Horta – Horta – Faial.
2000: Colectivas nos Polivalente do: Salão, Pedro Miguel e Capelo, respectivamente em Outubro, Novembro e Dezembro – Faial.
1999: Exposição Regional de Artesanato ’99 do IEFP. Trabalho em carapaça de polvo “velho sábio”.
1998: Colectiva no Museu Regional da Horta – Faial e nos Paços do Concelho das Velas – São Jorge.
Tem trabalhos seus em:
Museu da Horta – “Urânia”
Câmara Municipal da Horta – “Basaltina”
Serviço de Ilha do Faial da SRE – “Da Promessa”
Direcção Regional do Ambiente – Faial – “Mulher de Porto Pim”
Junta de Freguesia do Capelo – Faial – “Dólio”
Centro Internacional de Arte e Cultura de S. Tomé e Príncipe “Basaltina II”
Assembleia Legislativa Regional dos Açores – Faial – “Íamo”
Faial, 2005

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