Professor Jorge Picado mostra que a matemática é fácil

sexta-feira, 23 de maio de 2008


“Se experimentar prazer com a matemática, não a esquecerá facilmente e haverá, entoa, uma grande probabilidade de que ela se torne alguma coisa mais: uma ocupação favorita, uma ferramenta profissional, a própria profissão, ou uma grande ambição”. George Pólya





O Departamento de Matemática da Universidade dos Açores, pelo seu Centro de Matemática Aplicada e Tecnologias de Informação (CMATI), e com financiamento da Direcção Regional da Ciência e Tecnologia, organizou o evento “Um passeio pela Ciência: a Matemática na nossa vida”.
O projecto “Um passeio pela Ciência” pretende divulgar junto das Escolas Secundárias áreas do conhecimento decisivas para o progresso do País, e em particular da Região, desenvolvendo nos estudantes do Ensino Secundário o gosto pela Ciência e pela Tecnologia.
No âmbito deste projecto, o Professor Jorge Picado, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, esteve no Faial onde proferiu uma palestra na Escola Secundária Manuel de Arriaga.

Durante esta palestra Jorge Picado esclareceu coisas como: Sabe o que representa o algarismo suplementar à direita do seu número de BI? Não, não indica o número de Portugueses cujo nome é igual ao seu. Esse tal dígito, chamado algarismo de controlo, está presente no dia-a-dia de todos nós. Utilizado em cartões de utilizador ou cliente (biblioteca, pontos), em códigos de barras, em bilhetes de avião, no ISBN dos livros, na Via Verde, nos cartões de crédito, passaportes e NIB, entre muitos outros, tem por função detectar se os números de identificação estão correctamente escritos ou não.
Já viu os aborrecimentos que teria se um simples engano na escrita do seu NIB fizesse com que estivesse a transferir dinheiro para uma pessoa desconhecida?
E se um erro semelhante na leitura do código de barras no supermercado, o fizesse pagar uma lata de atum ao preço de uma televisão? São os algarismos de controlo que permitem que esses erros sejam facilmente detectáveis.
Em conversa com o Tribuna das Ilhas este professor disse que “a ideia destas palestras surge no sentido de mostrar aos alunos como a matemática sem a maioria das pessoas dar por ela está no nosso dia-a-dia.”
Jorge Picado disse a nossa reportagem que “na minha palestra mostro uma série de exemplos com as quais lidamos todos os dias e sem as quais não podemos viver, dependem da matemática. E nestes temas mais simples a matemática utilizada não é nada complicada e consigo explicá-la a alunos do décimo ano… as ideias são muito simples mas muito úteis.”
Instado a pronunciar-se sobre a adesão e a receptividade dos alunos a estas palestras, Jorge Picado diz que “os auditórios têm estado cheios até porque este é um tema que funciona muito bem, dada a sua simplicidade. Em Coimbra temos a tradição de promover acções deste género para divulgar a matemática e já temos desenvolvido palestras destas de norte a sul do País.”
Esta é também uma forma de desmistificar o mito de que a matemática é um “bicho-de-sete-cabeças”, “para já transmitimos a ideia de que a matemática é útil. Se não houvesse a matemática as pessoas perderiam imenso tempo nas filas dos supermercados… falar ao telemóvel seria impossível… hoje em dia toda a tecnologia é baseada em sistemas matemáticos e é isso mesmo que tentou mostrar. A matemática é uma coisa bonita. É preciso algum esforço para se perceber e aprender a matemática. É preciso treino, tal como um desporto, não se pode ter um papel passivo, é necessário experimentar para ver se funciona ou não. Este tipo de temas ajuda muito nisto.”
Tribuna das Ilhas quis ainda saber se já há resultados práticos destas palestras, isto é, se os resultados escolares têm registado melhorias, “muitos departamentos de matemática das várias universidades têm feito palestras deste género para atrair mais jovens para as licenciaturas de ciências. Por questões demográficas o número de alunos nas universidades têm vindo a descer porque há um pavor em relação à matemática e o que estamos a verificar é que estamos a conseguir inverter essa situação, e é só com esse esforço que conseguimos. Em Coimbra promovemos ateliers de matemática ao fim-de-semana e os alunos das Secundárias têm participado.”


Curriculum Vitae
Professor associado do Departamento de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, licenciado em Matemática pela Universidade de Coimbra em 1985, doutorado em Matemática Pura (Álgebra) pela Universidade de Coimbra em 1995.
É investigador do Centro de Matemática da Universidade de Coimbra sendo membro da sua Comissão Directiva e membro do grupo de investigação em Álgebra, Lógica e Topologia.
Tem feito inúmeras palestras de divulgação pelo País em escolas secundárias e centros culturais.Fez parte da Comissão de Problemas das Olimpíadas Portuguesas de Matemática entre 1990 e 2000. Chefiou a delegação portuguesa às Olimpíadas Internacionais de Matemática nas duas primeiras participações de Portugal (1989 e 1990). É autor (em conjunto com Paulo Oliveira) de 4 livros sobre problemas das Olimpíadas Portuguesas

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