175 anos da elevação da vila a cidade

segunda-feira, 5 de maio de 2008

“Recordar o passado para perspectivar o futuro”

Legenda: MONTE DA GUIA O cenário perfeito para a apresentação do programa

Com mais de cinco séculos de existência, o núcleo urbano da Horta contribuiu de forma muito significativa para a história do Arquipélago. Com uma vivência ancestral conseguiu, desde os primórdios do povoamento, aglutinar um conjunto de influências que lhe conferiram uma identidade própria e à qual é indissociável a natureza do seu porto e a sua localização geográfica. A Horta foi cidade em 1833 e continuou a crescer como porto de comércio, de estacionamento de frotas baleeiras e sobretudo em escala de navegação do Atlântico.


Maria José Silva

A Câmara Municipal da Horta apresentou na tarde da passada segunda-feira, no cenário pitoresco do Monte da Guia, o programa comemorativo dos 175 anos da elevação de vila a cidade da Horta.
As comemorações terão início no dia 5 de Maio, dia em que ser assinala o Voto Municipal de Pentecostes, e estende-se até 4 de Julho próximo.
Recorde-se que o Voto Municipal de Pentecostes, um reconhecimento do Município com carácter perpétuo, associado à erupção vulcânica de 1672, na Praia do Norte, trata-se de um voto em honra do Divino Espírito Santo, protector e padroeiro da ilha do Faial, que este ano tem como principais novidades, o facto de recuperar a antiga tradição do terço ao Divino Espírito Santo, que num dos dias terá mesmo lugar no Império dos Nobres - o mais antigo dos Açores construído em alvenaria -, e a realização de tapetes de flores em todo o trajecto do cortejo processional do Domingo de Pentecostes.
Ainda no decorrer do mês de Maio, realiza-se, no dia 16, um simulacro ao Plano Municipal de Emergência, desta feita incluído no 7.º Dia Municipal do Bombeiro.
Importa salientar que o Plano municipal de Emergência foi aprovado pelo Serviço Regional de Protecção Civil e Bombeiros dos Açores a 3 de Janeiro de 2008 e é considerado um documento fundamental em matéria de prevenção de riscos e que reequaciona princípios e normas de actuação que devem orientar todos os organismos, departamentos e instituições que possam estar envolvidos na prevenção e minimização de prejuízos em casos de catástrofes ou calamidades que afectem o concelho.
Outro dos momentos mais marcantes destas comemorações é, sem dúvida, o programa que visa assinalar os 150 anos de nascimento do escritor Florêncio Terra. Nasceu em 18 de Maio de 1858 na Horta, cidade onde faleceu em 25 de Novembro de 1941. Filho de Florêncio José Terra e de Maria dos Anjos Sarmento, Florêncio Terra distinguiu-se no conto, no jornalismo e, ainda, como notável professor e Reitor do ex-liceu da Horta. Foi, além disso, vice-presidente e presidente da Câmara Municipal. Tendo cursado com distinção o Liceu da Horta, aí começou, em 14-10-1888, a reger interinamente a cadeira de Introdução à História Natural. Prestando, de seguida, brilhantes provas em Lisboa, foi em 8-11-1896 nomeado professor vitalício e, posteriormente, Reitor, cargo este que exerceu em duas ocasiões (1907-1911 e 1928-1929). Como jornalista, dirigiu, com Luís Barcelos, o semanário literário A Pátria (13 de Dezembro de 1876) e, com Manuel Zerbone, publicou posteriormente um novo semanário literário intitulado Biscuit (5 de Julho de 1878). Onde, porém, a sua personalidade de jornalista mais se vincou foi no diário O Açoreano (2ª série, iniciada em 1-3-1895) e no semanário literário e noticioso O Faialense (2ª série, 5-11-1901), este último de parceria com Marcelino Lima e Rodrigo Guerra. Colaborou ainda no Grémio Literário Faialense, em O Telégrafo, no Correio da Horta e em diversas revistas e jornais do Continente (Ocidente, Branco e Negro, Revista Literária de "O Século", etc.). Assinava os seus artigos e contos usando, geralmente, os seguintes pseudónimos: "Ri…Cardo", "X", "XXX", "Y", "Máscara Verde", "Nemo", "Zague" e "Ignotus". Destacam-se, da obra literária de Florêncio Terra", três livros póstumos: Contos e Narrativas (1942 e, em 2ª edição, 1981), Munhecas (1979) e Água de Verão (segundo volume de Contos e Narrativas, 1987). Para Teatro escreveu a comédia Helena de Savignac e, em colaboração com o seu amigo Manuel Zerbone, o drama Luísa. No Romance salientam-se O Engeitado, Vingança da Noviça e As Duas Primas (incompleto), os dois últimos escritos, sob o pseudónimo "Zigue e Zague", em co-autoria com Zerbone. A 30 de Abril de 1958, a Câmara Municipal da Horta, por proposta do presidente Dr. Sebastião Goulart, deliberou que fosse colocada uma lápide na sepultura de Florêncio Terra e dado o seu nome ao Jardim Público da cidade. A 21 de Novembro de 1987, a edilidade, então presidida por Herberto Dart, voltou a homenagear Florêncio Terra, mandando cunhar uma medalha evocativa e colocar uma fotografia sua no Salão Nobre dos Paços do Concelho.
O programa dos 150 anos de Florêncio Terra incluirá a realização de uma sessão evocativa na Casa dos Açores de Lisboa, promovida pela Associação dos Antigos Alunos do Liceu da Horta, uma missa solene na Igreja Matriz, com romagem ao Cemitério do Carmo onde a Câmara depositará uma coroa de flores e colocará uma placa referida na deliberação de 1958, bem como o descerramento de uma placa comemorativa no Jardim Florêncio Terra, seguida de concerto, uma leitura encenada do conto “A debulha” na Biblioteca Pública, a cerimónia de entrega do prémio literário “Florêncio Terra” e o lançamento de contos inéditos do autor.
A Câmara Municipal inclui ainda nestas comemorações, a realização da Festa do Mundo Rural, de 5 a 8 de Junho, um evento que tem a particularidade de permitir, por um lado dinamizar o sector empresarial da ilha e, por outro lado, a promoção de produtos e serviços existentes localmente.
A par destes eventos, decorrerá ainda a Festa de São João da Caldeira, de 22 a 24 de Junho, que inclui o feriado municipal de 24 de Junho, sendo esta uma das mais antigas romarias existentes na ilha do Faial, que inclui a exibição de marchas populares, grupos de danças e cantares e a sempre apreciada presença da gastronomia local.
A 27 de Junho arrancará um extenso Festival náutico, denominado “175 anos – Horta cidade Mar”, que incluirá a realização da IV Regata Internacional de Botes Baleeiros, o Campeonato Nacional de Atuns, um Encontro Regional de Escolas de Vela e as sempre apreciadas regatas em vela de cruzeiro.
Nesse fim-de-semana, mais concretamente a 28 de Junho realizar-se-à um concerto da Banda da Força Aérea Portuguesa, na Praça da República, sendo inauguradas as exposições colectivas de fotografia e pintura, organizadas pelo Município e que resultam de uma proposta aos artistas locais para apresentarem ao público faialense os seus trabalhos que terão a cidade da Horta como fonte de inspiração.
Marcará inevitavelmente estes 175 anos de cidade, o lançamento do I volume do livro “História da ilha do Faial – Património Histórico e Literário”, a 1 de Julho, um projecto que constitui um marco histórico para a ilha do Faial, no sentido em que a procura dotar de uma obra representativa da memória e da identidade das suas gentes e enriquecedora do seu património cultural, tendo surgido no âmbito de um protocolo assinado com a Universidade dos Açores através do Centro de Estudos Gaspar Frutuoso.
De 4 a 6 de Julho decorrerão as tradicionais Festas do Mercado Municipal, parte integrante dos festejos da cidade e destacando-se não só pelo seu cunho de arraial popular, mas também pela presença de grupos de música tradicional e dos sempre apreciados bailes.
O dia 4 de Julho será um dos momentos mais importantes destas comemorações, reforçando o respeito pelas antigas tradições deste concelho, perspectivando o seu desenvolvimento e integrando um conjunto de homenagens a entidades e personalidades que mais se distinguiram na vida do concelho. Precede a sessão solene, a realização de eventos que visam, simultaneamente, assinalar os 232 anos da independência dos Estados Unidos da América, cujas comemorações decorrem no mesmo dia e num gesto simbólico que recorda as boas relações entre os Açores e aquele país para onde emigraram muitos portugueses.
Neste dia, a Câmara vai inaugurar as novas instalações da Assembleia Municipal, que permitirá aproveitar a antiga casa dos magistrados existentes na cidade da Horta, e dotar de melhores condições de funcionamento os diferentes grupos municipais.
A 6 de Julho está prevista a realização de uma serenata à cidade da Horta, com vários artistas, entre os quais da cidade de Coimbra e a 9 de Julho a actuação de uma banda filarmónica de São José, dos Estados Unidos da América, sem contar com vários outros eventos que marcarão os 10 anos do Sismo que abalou a ilha do Faial a 9 de Julho de 1998.
De 9 a 11 de Julho teremos um dos momentos mais expressivos destas comemorações, com a recreação do desembarque dos primeiros povoadores flamengos, na Baía de Porto Pim. Este projecto constitui por si só um cartaz de animação cultural e turística ao evocar, de forma inédita, um passado histórico com mais de quinhentos anos. Para esta recreação recorrer-se-à a réplicas de embarcações da época, a trajes e brasões das principais famílias flamengas devidamente identificadas, a grupos de teatro e de música erudita. Depois de um desfile engalanado até à Igreja Matriz seguir-se-à uma ceia medieval no Castelo de São Sebastião, que contará com gastronomia e animação próprias.

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