Celebrações do Dia dos Açores 2009
Jornada de Açorianidade em Toronto
A cidade canadiana de Toronto, onde reside uma vasta comunidade açoriana, acolheu domingo à tarde, em celebração antecipada, a sessão solene do Dia dos Açores. Foi a segunda vez que a comemoração dos Dia dos Açores, instituído em1980, tem lugar no estrangeiro, depois desta data já ter sido celebrada
Tribuna das Ilhas esteve presente nas cerimónias no Canadá que tiveram vários momentos de relevo.
A College Street foi o local escolhido para um festival de rua que contou com a presença de autoridades e individualidades açorianas e canadianas.
As festividades arrancaram com o desfile e actuação da Banda do Sagrado Coração de Jesus, da Music Society of St. Helens, ao longo da College Street, núcleo central da comunidade açoriana em Toronto.
Mostra de Artesanato
Patente a todos os presentes esteve uma Mostra de Artesanato. Desde os terços tradicionais dos romeiros até aos trabalhos em olaria, tecelagem e bordados, a mostra foi visitada pelo presidente do Governo, e respectiva comitiva, seguida por centenas de interessados da comunidade açoriana e gentes de outras origens.
Maria de Lurdes Amaral foi uma das artesãs que esteve presente na Mostra de Artesanato realizada em Toronto. À nossa reportagem disse que “vim de propósito para este evento, para poder mostrar os nossos trabalhos a esta comunidade. A receptividade da população tem sido muito boa.”
Instada a pronunciar-se sobre a importância desta iniciativa, a artesã micaelense diz que “as pessoas que visitam o nosso stand matam saudades da sua terra. Ao nos verem sentem-se um bocadinho na sua ilha. O propósito principal não é, sem dúvida, as vendas.”
Sopas do Espírito Santo
Da rua, a festa deslocou-se para o parque da Escola Santa Helena, ainda na College Street, onde, depois da bênção do Bispo de Angra, D. António Sousa Braga, se serviram as famosas sopas do Espírito Santo.
Preparadas por Fátima Pires e Francisco Menezes, ambos nascidos na Terceira e radicados no Canadá, há várias décadas, foram servidas por uma vasta equipa de voluntários, a cerca de cinco mil pessoas. Foram utilizados 2500kg de carne, mais de mil pães e vários bolos de massa sovada. A refeição prosseguiu, ao longo da tarde, acompanhada pela actuação de artistas locais.
Paula Sousa foi uma das mulheres a participar na confecção das Sopas do Espírito Santo. A residir há 20 anos no Canadá, para esta emigrante a realização destas comemorações foi algo muito significativo.
A labuta começou às cinco da manhã mas já há uma semana a esta parte que vários emigrantes se juntavam para preparar as Sopas que foram confeccionadas à moda da Terceira.
“Esta é uma festa muito bonita e muito tradicional dos nossos pais e dos nossos avós e é algo que eu adoro. Nunca esquecemos as nossas origens e, ver tantos açorianos reunidos é algo que me choca que me emociona.”
Paula Sousa é sócia da Casa dos Açores de Ontário e “costumo frequentar e participar nas suas actividades pelo que a cerimónia de hoje tem um sabor especial. É o nosso espaço, onde a nossa comunidade, os nossos filhos, recordam os Açores. É tudo para nós.”
Insígnias
Durante a sessão solene de domingo foram entregues insígnias autonómicas de Valor (1), de Reconhecimento (8), de Mérito (23) e de Dedicação (3) a 28 personalidades e a sete pessoas colectivas.
Com a sua atribuição, o Parlamento açoriano pretendeu traduzir o “reconhecimento público para com os cidadãos ou instituições que, ao longo dos anos, contribuíram de forma expressiva para consolidar a identidade histórica, cultural e politica do povo açoriano”.
Fernando Menezes, que foi presidente do Parlamento nas duas anteriores legislaturas, recebe a Insígnia Autonómica de Valor.
Com a Insígnia Autonómica de Mérito Cívico foi o Fayal Sport Club, que este ano celebrou 100 anos de existência e que se fez representar por Fernando Amorim.
As insígnias honoríficas açorianas foram instituídas pelo Decreto Legislativo Regional n.º 36/2002/A, de 28 de Novembro, com o objectivo de prestar homenagem a pessoas singulares ou colectivas que, em múltiplas vertentes da sua actuação e em actos com os mais diversos enquadramentos, se hajam distinguido em beneficio da comunidade e na valorização dos Açores.
O Dia da Região Autónoma dos Açores foi instituído pelo Parlamento açoriano em 1980.
A data, que é observada em todo o arquipélago como feriado regional, celebra a “afirmação da identidade dos açorianos, da sua filosofia de vida e da sua unidade regional”, consideradas “base e justificação da autonomia política que lhes foi reconhecida e que orgulhosamente exercitam”.
Ao criar o Dia dos Açores, o Decreto Regional n.º 13/89/A, de 21 de Agosto, justificou a escolha da segunda-feira do Espírito Santo por este ser “o mais popular dos dias de repouso e recreio em toda a Região”.
Em 1997, o Dia da Região foi assinalado,
Carlos César inaugurou em Toronto, o primeiro posto da Rede Integrada de Apoio ao Cidadão fora de Portugal, iniciativa que considerou ter, simultaneamente, “um valor simbólico e real”.
O simbolismo deriva precisamente, explicou Carlos César, do facto de ser este posto o primeiro fora de Portugal, seguindo-se outro
Iniciativas como estas “marcam a modernidade dos Açores”, acrescentou o chefe do executivo açoriano, e “transmitem outra proximidade dos seus serviços e das suas autoridades às populações locais e às instituições políticas dos lugares onde existem comunidades emigradas dos Açores”.
Cerimónia solene do Dia da Região Autónoma dos Açores
A cerimónia oficial do Dia da Região foi, sem sombra de dúvidas, o ponto alto de toda esta visita a Toronto.
A abertura musical esteve a cargo de Remigio Pereira, um luso-canadiado de origem açoriana que integra o conceituado grupo "The Canadian Tenors", é um artista multifacetado que se tem afirmado, internacionalmente, como cantor, guitarrista, compositor e autor de canções.
Este luso-canadiano foi acompanhado ao piano pela grande música e Directora Regional da Cultura, Gabriela Canavilhas e conseguiu, registe-se, pôr o presidente do Governo Regional a cantar o “La sole mio”.
Na altura dos discursos, saltou à vista o “recado” que César deixou a Lisboa ao afirmar que “os Açores europeus são um valor acrescentado, sem par, na comunidade nacional e igualmente numa perspectiva de qualificação da afirmação portuguesa no Atlântico. Foi assim e continua a ser. Por exemplo, o território nacional será ampliado proximamente e sairá avolumada a sua massa crítica, geográfica e estratégica com a fixação pelas Nações Unidas dos novos e muito mais latos limites da plataforma continental portuguesa. E na sua maior parte, isso acontecerá por via dos Açores. É, por isso, e não só, uma urgência a compreensão, pelos políticos nacionais, da evidência da qualidade estratégica do investimento e da valorização dos territórios portugueses insulares atlânticos. Sem estes, sem a correcta consideração dos Açores e da Madeira, a afirmação portuguesa no processo de construção europeia, e no Mundo, ficaria drasticamente diminuída.”
César prosseguiu dizendo que “o país político não deve esquecer o capital multiplicador do enquadramento geoestratégico dos Açores, nem muito menos esquecer que a dimensão portuguesa está para além da sua insuficiente faixa continental. Aliás, em vários aspectos, a relevância açoriana é evidente. Uns por ignorância, outros por preconceito forjado na babugem centralista, não compreendem o país assim. Desconsideram-nos, é certo, mas, pior, desbaratam o sentido mais útil da dimensão nacional. Compete-nos lembrar-lhes tudo isso em todos os momentos. É o que lhes lembramos, uma vez mais, neste Dia.”
Para além disso o Chefe do Executivo deixou um apelo ao voto ao sufrágio europeu que se avizinha.
“A Autonomia reestruturou-nos nessas dimensões que referi, mas também no plano nacional, de forma recentemente revigorada pela aprovação do Estatuto Político-Administrativo dos Açores por quase todos os partidos na Assembleia da República, como também na nossa inserção como região com poderes legislativos e estatuto especial ultraperiférico na União Europeia, donde têm provindo inúmeros benefícios. Podemos, sem dúvida, vir a desfrutar de uma melhor Autonomia e de uma melhor Europa, e essa ambição é incessante, mas a verdade é que a Autonomia que temos e que teremos não teria sido construída com suficiência de meios sem a filiação e o apoio europeus que tivemos e ainda temos.
Atentemos, pois, às eleições europeias do próximo domingo, em consequência das quais teremos, decerto e de novo, no Parlamento Europeu, representantes dos Açores, o que muito nos ajudará particularmente na resolução de problemas complexos que se colocarão em sectores como o da agricultura. É fundamental ir votar nessas eleições: votar para reafirmar a nossa pertença, reclamando, é certo, uma Europa mais justa, mais solidária e mais segura e também mais empenhada no diálogo transatlântico que inclui o Canadá, os Estados Unidos da América e o Brasil. Para os que podem votar, não o fazer será uma vergonha e uma destituição cívica injustificada.”
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