sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

DETECÇÃO PRECOCE DO CONSUMO NOCIVO DE ÁLCOOL

O consumo de álcool por adolescentes portugueses até aos 16 anos aumentou significativamente nos últimos anos, apesar de se manter abaixo da média europeia.

Actualmente, o abuso do álcool tem alcançado proporções massivas, tanto em países desenvolvidos como nos países em desenvolvimento, e está associado a uma série de consequências adversas, das quais o alcoolismo é apenas uma pequena parte, ainda que seja a de maior relevância do ponto de vista clínico. O problema do alcoolismo transformou-se sem dúvida, num dos fenómenos sociais mais generalizado das últimas décadas.

Todavia não podemos ignorar que existem factores individuais relacionados com o meio, que condicionam o consumo excessivo de álcool, levando ou não, à dependência, ao fim de algum tempo.

As raparigas já bebem quase tanto como os rapazes. O problema parece residir na baixa autoestima.

Perante estes dados e muitos outros estudos que têm sido desenvolvidos a nível local, regional, nacional e mesmo europeu, a Direcção Regional da Prevenção e Combate às Dependências promoveu nos dias 1 e 2 de Fevereiro, no Centro do Mar, uma acção de formação destinada a desenvolver competências em termos de detecção precoce de consumo nocivo de álcool.

A acção foi orientada por Cristina Ribeiro, assessora do Instituto da Droga e da Toxicodependência, para os assuntos ligados ao álcool.

Este projecto formativo tem como finalidade conhecer os vários padrões de consumo do álcool, divulgar as novas metodologias de abordagem e capacitar os profissionais de saúde para o diagnóstico e tratamento do consumo excessivo.

O objectivo da Direcção Regional da Prevenção e Combate às Dependências é criar uma rede de referenciação desde o primeiro nível de cuidados de saúde.

Tribuna da Ilhas esteve no Centro do Mar e conversou com Cristina Ribeiro “esta acção é uma acção sobre problemas ligados ao álcool e os cuidados primários. O que se pretende é que junto destes formandos, possamos criar as ferramentas que permitam detectar precocemente estes problemas. Queremos ter a facilidade de criar instrumentos que permitam que as pessoas, junto das suas comunidades, consigam identificar quais os níveis de consumo que têm e a partir dai serem capazes de estratificar o risco associado a esse consumo. Estamos certos que, a partir do momento em que percebermos qual é o tipo de consumo, vamos conseguir delinear a linha de acção que vamos oferecer a este grupo de utentes para que possam ser mais competentes no seu dia-a-dia.”

No entender desta técnica, “o consumo excessivo de álcool tem implicações que são transversais a muitas outras dependências. Tem consequências a nível pessoal, sócio-familiar e profissional. O nosso objectivo passa, claro está, por aumentar as competências destes profissionais de saúde, para que possam ser capazes de responder a grande parte desta situações, mais não seja, fazendo detecção precoce, proactivamente trabalhando com estas pessoas para que não atinjam extremos, no contexto dos consumos, que levam a casos de dependência alcoólica que leva à degradação da pessoa humana”.

Quando questionada sobre a situação deste flagelo, Cristina Ribeiro frisa “cada vez mais temos a consciência de que um grupo da população que são os jovens, tem uma tendência para pré-começar os seus consumos bastante cedo, por volta dos 13/14 anos. Começam a ter os seus quadros de intoxicação com álcool bebendo em excesso nos espaços de diversão nocturna, o que leva a que hajam consequências associadas que passam pela agressividade, pelos conflitos, pela sinistralidade rodoviária, pela prática de actos sexuais não protegidos, que levam muitas vezes a gravidezes não desejadas. Mais grave é o consumo de álcool associado ao consumo de outras substâncias ilícitas. Tudo isto traduz-se em jovens que se transformam em adultos mais debilitados do ponto de vista cognitivo e das suas competências, para serem pessoas mais capazes da nossa sociedade.”

As pessoas estão receptivas e interessadas nesta problemática, frisa aquela profissional, “cada vez mais os profissionais da área querem unir-se e criar um boa rede de referenciação para verem o seu trabalho facilitado e mais célere”.

Cristina Ribeiro esperava a presença de mais médicos dos cuidados primários, “porque é muito importante o diagnóstico clínico e esse diagnóstico passa pelo parecer do médico. Se estamos num contexto de dependência alcoólica é importante, para além de uma abordagem farmacológica que passa pela desintoxicação. Isso necessariamente precisa da intervenção de um médico.”

A opinião do médico

Manuela Soares é médica de clínica geral do Centro de Saúde da Horta e esteve presente nesta acção de formação que durou, lembre-se, dois dias.

Sobre este assunto a profissional de saúde refere que “este é um paradigma que está a mudar. A cerveja prevalece em vez do vinho, nas camadas jovens os shots, ou seja as bebidas espirituosas de alto grau, são, sem sombra de dúvidas, novos paradigmas desta dependência. Quando cá cheguei há 25 anos a situação não era bem assim.”

Questionada sobre se as pessoas procuram os serviços do centro de saúde preocupadas com esta questão, se procuram os médicos para se consultarem a este respeito, Manuela Soares disse ao Tribuna que “esses doentes não se sentem doentes e não vêm à consulta. Eles sabem que bebem demais, socialmente é tudo muito normal. A mulher está também a tomar um lugar de destaque nesta problemática do alcoolismo e mesmo no tabaco. Este flagelo, infelizmente, não tem a expressão clínica desejada por nós para que possamos fazer-lhe face”.

“Os jovens estão cada vez mais autónomos. Tem a sua semanada, saem muito à noite. Há uma liberalização do consumismo favorecedor ao consumo de álcool, coisa que não acontecia há uns anos a estar parte” – sublinha a Médica que refere ainda que “a criação de uma rede referenciação será óptimo. Será uma forma de modificar a atenção dada a este problema de uma forma mais global e em parceria”.


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