sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010


5 GYRES

Projecto estuda efeitos do Plástico no Mar



Um grupo de cientistas acha que os oceanos do mundo estão se enchendo de plástico e iniciaram uma viagem, que teve inicio nas Ilhas Virgens, nos Estados Unidos da América e que vai percorrer os cinco oceanos do mundo.

Na passada semana chegaram ao Faial e Tribuna das Ilhas esteve no Peter Café Sport, à conversa com estes investigadores.

Intitula-se de "5 Gyres Project” e é da responsabilidade da Algalita Marine Research Foundation (AMRF), Legacy e Livable Explorations Pangaea. Marca o primeiro estudo global da poluição marinha de plástico do mundo.
A primeira expedição cruzou o Mar dos Sargaços entre as Índias Ocidentais e os Açores, onde se acumulam toneladas de restos de plástico.

A segunda expedição cruzará o Atlântico Sul, do Rio de Janeiro à Cidade do Cabo, África do Sul, em Agosto de 2010.

Até à data tem sido feita pouca investigação neste campo, pelo que o objectivo deste projecto, de acordo com Marcus Ericksen e Anna Cummins é reunir um panorama global da poluição marinha de plástico em 2011.
Marcus Eriksen é formado em Ciências da Educação. Trabalhou como assistente de pesquisa em Universidades e Jardins zoológicos. Ele ensina e faz pesquisas em ciências da terra, palestras em escolas e museus e supervisiona um curso anual de campo em paleontologia.
Anna Cummins conta com mais de 10 anos de experiência em organizações ambientais sem fins lucrativos. Já trabalhou na conservação marinha, gestão de bacias hidrográficas costeiras, educação sustentabilidade.

Marcus e Anna trabalham na vanguarda da investigação marinha de plásticos.

Há doze anos que este casal estuda o efeito do plástico nos ecosistemas marinhos e, conforme nos referiram, o seu efeito, sobretudo nos animais, tem vindo a piorar de dia para dia.

Pela primeira vez tiveram oportunidade de estudar o oceano atlântico e retiraram um total de 35 amostras e em todas elas existia plástico.

Desde pequenas partículas de plástico, tipo confetis, a garrafas, escovas de dentes, bidões, isqueiros, encontra-se de tudo no oceano.

Mas, mais preocupante é a enorme quantidade de plástico encontrada no estômago dos animais.

“Recordo-me que numa viagem no pacífico me debati com quantidades enormes de plástico no mar e pensei que não era normal. Que impactos poderia aquela quantidade toda de plástico vir a ter no nosso meio ambiente e, sobretudo na nossa cadeia alimentar e, consequentemente, em nós. Gaivotas, tartarugas e peixes são muito afectados por este flagelo. Recentemente encontrámos no estômago de uma gaivota uma escova de dentes, isqueiros, cartuchos de uma arma, brinquedos…”

Marcus disse-nos que “este plástico está também dentro de peixes e nós comemos peixe e isso é muito maléfico para a nossa saúde”.

Estes investigadores pretendem documentar este problema mundial e torná-lo público, para tentar alertar as entidades e autoridades mundiais. São 13 as pessoas a bordo do Sea Dragon, desde cientistas, artistas, activistas e jornalistas, que ao longo deste seu percurso têm proferido palestras em Escolas e Universidades para alertar para este fenómeno.

Na Horta estiveram no Departamento de Oceanografia e Pescas, onde proferiram uma palestra elucidativa sobre a sua missão. Também visitaram o departamento de resíduos da Câmara Municipal da Horta, para perceberem como é o plástico tratado na ilha, uma vez que, na Praia do Porto Pim recolheram amostras com muito plástico.

O Faial foi a ilha escolhida para que esta expedição científica fizesse uma paragem porque “ouvimos dizer, um pouco por todo o mundo, que na Marina da Horta os velejadores eram muito bem recebidos. Também porque mantínhamos contacto com a Dra. Helena Krug há largos meses e achámos interessante vir cá.”

Apesar do objectivo ser visitar todos os cinco oceanos do mundo e disso ainda não ter sido concretizado, já é possível tirar algumas conclusões que nos fazem, ou pelo menos deviam fazer, pensar no que queremos para o nosso futuro.

“Todos devíamos estar preocupados porque este é um problema internacional. Todos os oceanos, por todo o mundo têm plástico e é isso mesmo que vamos documentar. Temos que aprender a reutilizar o plástico ou a substituir objectos de plástico por outros, porque é possível” – alertam os investigadores.

Ao redor do mundo, a poluição do plástico tornou-se uma crescente praga, entupindo as nossas vias, prejudicando os ecossistemas marinhos, e entrando na cadeia alimentar marinha.
No oceano, alguns destes plásticos de policarbonato, Polystrene e PETE-lavatório, enquanto o PEBD, PEAD, polipropileno, espuma e plásticos flutuam na superfície dos oceanos. Luz solar e acção das ondas fazem com que estes plásticos flutuantes se fragmentem em partículas cada vez menores, mas nunca desapareceram completamente.

Tem que haver uma mudança de atitude por parte de cada um de nós, pois só assim se pode inverter esta situação. Também o governo e as grandes empresas têm que ter uma mentalidade mais aberta para receber todas estas mudanças que urgem acontecer.

“Já há países, como a China, Índia, entre outros, que, por exemplo, baniram os sacos de plástico. Ora, isso é um pequeno grande gesto que poderá ajudar a combater este flagelo. É uma questão de liderança e prioridades” – diz Anna.

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