sexta-feira, 27 de novembro de 2009


Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres

Colóquio “Violência no namoro: família e relações afectivas”

No âmbito das comemorações do Dia Internacional da Eliminação da Violência Contra a Mulher, que se celebrou esta quarta-feira, a UMAR – União de Mulheres Alternativa e Resposta e o Comando da Polícia de Segurança Pública da Horta, organizaram um colóquio denominado “Violência no namoro: família e relações afectivas”.

Este colóquio decorreu na Escola Profissional da Horta e, pretendia obter uma visão global da problemática da violência nas relações de intimidade, através da perspectiva e abordagem de diferentes instituições, tendo em vista despertar consciências para este flagelo social e aperfeiçoar mecanismos de interacção entre as mesmas, tendo por objecto, uma oferta de um serviço adequado à vitima/cidadão.

O programa do colóquio era vasto e abrangia a apresentação de uma peça de teatro, intitulada de “Um amor assim valia tudo”, com direcção e realização da UMAR Açores.

Carla Mourão, psicóloga da UMAR do Faial, explicou a este semanário que “esta problemática tem vindo a ser abordada, sobretudo neste último ano, porque é um forte indicador de futura violência conjugal, ou seja, quando há violência doméstica, quer numa relação de união de facto, quer num casamento, previamente houve no namoro.”

De acordo com a profissional da UMAR, “não recebemos nenhuma vitima de violência no namoro, o que tem acontecido é que, ao tratarmos casos de violência doméstica e conjugal, constatamos que, na retrospectiva que é feita à sua relação, muitas vezes já havia violência durante o namoro.”

No que concerne às palestras, de manhã, a psicóloga da Escola Profissional da Horta, Ana Luísa, falou dos “Primeiros sinais de violência no namoro”. A professora Fernanda Ângelo trouxe à discussão o tema “Sementeiras de violência em jardins de liberdade: causas e efeitos.”

Ana Félix, psicóloga da Escola Secundária, abordou a “Família e violência no namoro”, enquanto o Comissário Carlos Ferreira falou da “Violência no namoro: Uma perspectiva policial”.

Sobre esta temática, o responsável policial disse ao Tribuna das Ilhas que “a visão da PSP é de que a violência no namoro é um fenómeno a que se assiste hoje na nossa sociedade e em concreto na sociedade faialense. Era um fenómeno que até há um ou dois anos atrás não tinha grande visibilidade, mas, na sequência de um estudo realizado pela Universidade do Minho que veio revelar que jovens entre os 15 e os 25 anos de idade eram vítimas de violência no namoro, ganhou uma visibilidade crescente e deu origem a uma campanha oficial.”

“As situações de recurso à PSP por violência no namoro são ainda residuais no Faial” – avança Carlos Ferreira, que “já existem algumas situações detectadas, temos alguns inquéritos preliminares em curso, mas comparativamente com os dados globais de violência doméstica, a violência no namoro tem números ainda muito residuais”.

Na opinião do Comissário, “as e os adolescentes, bem como a família e os amigos das vítimas de violência no namoro, não tinham a noção da gravidade do problema. Por outro lado, as entidades oficiais não estavam muito sensibilizadas para esta problemática.”

De tarde os trabalhos deste colóquio tiveram início com a apresentação de um testemunho de uma situação de violência nas relações afectivas, da responsabilidade da UMAR. Carla Mourão, psicóloga da instituição falou sobre “Os afectos no ciclo da violência”.

Existe violência quando, numa relação amorosa, um exerce poder e controlo sobre o outro, com o objectivo de obter o que deseja.
A violência nas relações amorosas surge quando os rapazes pensam que têm o direito de decidir determinadas coisas pela namorada; o respeito impõe-se e o ser masculino é ser agressivo e usa a força. Ainda neste sentido, as raparigas acreditam que as crises de ciúme e o sentimento de posse do namorado significam que ele a ama e que são responsáveis pelos problemas da relação. Outra das questões abordadas e que são muitas vezes ponderadas pelas raparigas prende-se com o facto de não poderem recusar ter relações sexuais sempre e quando o namorado o deseja.
A violência não conhece fronteiras de estratos sociais, faixas etárias, religiões, etnias, etc, e ocorre em todos os casais, quer sejam heterossexuais ou homossexuais.
Decidir viver uma relação amorosa não violenta requer saber identificar os sinais de uma relação violenta. E os sinais são, por vezes, imperceptíveis na primeira instância e só com o longo do tempo é que há uma consciencialização. Alguns indícios passam por: beliscões, empurrões, arranhões, um dar de ordens ou toma de decisões sem consultar o outro.

Para além disso, não valorizar as opiniões; ser ciumento e possessivo, não querer que o namorado/a conviva com amigas e amigos; controlar todos os movimentos (perguntar constantemente onde esteve e com quem); humilhar em frente aos amigos e amigas; culpar o outro pelos comportamentos violentos e pressionar para terem relações sexuais, para terem relações sexuais não protegidas ou práticas sexuais não desejadas, são sinais claros de violência no namoro.
Normalmente a violência não é uma constante na relação, acontece ocasionalmente, e após o episódio de violência existe a chamada fase de “lua-de-mel”. Nesta fase o agressor procura desculpabilizar-se e desresponsabilizar-se, pedindo desculpa, oferecendo presentes e prometendo que a violência não voltará a acontecer.
As razões pelas quais as jovens mantêm uma relação de namoro violenta são várias, entre as quais o gostar realmente do namorado, querer que a violência acabe e não o namoro, e acreditar que poderá mudá-lo e a pressão do grupo.

A vergonha e o medo continuam ainda a ser os principais motores de uma relação deste género. Segundo Carla Mourão, “as adolescentes não se dirigem à UMAR a falar sobre a sua relação de namoro, por vergonha, porque pensam, muitas vezes, que é normal, quando estão numa relação o namorado ter direitos sobre elas…”

Carla Mourão é de opinião que “existem muitos casos camuflados. Pode não haver uma violência física, mas há o controle, a possessividade, a violência psicológica e portanto acredito sim que já está instalada”.
A violência no namoro tem consequências graves em termos de saúde física e mental para a jovem, tais como perda de apetite e emagrecimento excessivo; nódoas negras; nervosismo; tristeza; baixa auto-estima; depressão; isolamento; gravidez indesejada; doenças sexualmente transmissíveis; baixa dos rendimentos escolares ou abandono escolar e, em muitos casos, suicídio.

A UMAR deixa um conselho a todos as jovens que são vítimas de violência por parte dos namorados, “as jovens tem sempre o nosso apoio e podem sempre dirigir-se à UMAR. Se não se sentirem preparadas para nos abordar, tenham sempre, e acima de tudo, respeito por si próprias. Se estão numa situação destas falem com um adulto e peçam ajuda, mas, por favor, nunca fiquem numa situação destas”.

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