quinta-feira, 30 de abril de 2009


Fernando Guerra satisfeito com seis anos de CCIH

Fernando Guerra foi a cara da Câmara do Comércio e Indústria da Horta por dois mandatos consecutivos, ou seja, seis anos. Presentemente é presidente da Câmara do Comércio e Indústria dos Açores. Hoje, em entrevista ao Tribuna das Ilhas, diz que os seus objectivos enquanto líder da CCIH foram alcançados. Fechou essa porta, mas abriu a da política.


Findo que está o seu segundo mandato na CCIH, que balanço faz?

Os objectivos e metas possíveis de atingir foram alcançados. Em primeiro lugar, a continuação positiva de um primeiro mandato, onde se preparou terreno para uma organização empresarial mais sólida ao nível territorial, com presença efectiva quer no Faial, mas principalmente na área da sua competência, com a abertura de um espaço na Vila da Madalena do Pico e com a criação do Núcleo Empresarial das Flores.

Em segundo lugar, oferecendo mais serviços aos associados. Para além dos já existentes, reforçámos o gabinete jurídico e o gabinete de gestão dos incentivos, criando de raiz os de higiene e segurança no trabalho e o departamento de feiras.

Sem querer ser fastidioso no desenvolvimento das actividades destes departamentos, apenas destaco as de maior impacto, nomeadamente com a grande adesão dos empresários ao programa Seproqual e Qualimaçores, nas áreas dos estabelecimentos de alimentação e bebidas.

Com o departamento de feiras, realizámos quer a Festa do Mundo Rural, feira generalista, quer as feiras temáticas de Construção Civil e Imobiliário, a Expomar, a Feira Gastronómica. Deste modo, também demos bom uso ao equipamento de tendas adquirido no primeiro mandato. Ainda na área das feiras, foi com grande sucesso que realizámos na ilha das Flores uma exposição de actividades económicas.

Ao nível das mesas sectoriais, a de Construção Civil, a da Panificação e a do Turismo e Comércio congregaram associados que deram um contributo inestimável à classe. Ao nível do Turismo, com a presença em várias feiras de actividades, na BTL- Bolsa de Turismo de Lisboa, na ExpoGalicia, em reuniões sobre a economia do Triângulo, entre muitas outras.

Mais positiva foi igualmente a nossa representação como parceiro económico e social, onde a Câmara do Comércio e Indústria da Horta se fez representar pelos seus melhores associados, o que resultou no posicionamento e no respeito alcançados nesses órgãos; por via dessa representação, foi possível pugnar, nalguns casos intransigentemente, para que determinados investimentos reprodutivos tivessem lugar nas nossas ilhas de abrangência. As mais conhecidas foram, sem dúvida, o Fórum sobre o Porto e a Cidade, em colaboração com a Associação dos Antigos Alunos do Liceu Manuel da Arriaga, que culminou num parecer entregue “à força” ao Secretário Regional da Economia, expressando o que os empresários ligados ao sector e as populações pensavam sobre este assunto de vital importância para o Faial. Não posso deixar de referir ainda o acto de coragem que consistiu em elaborar duas alternativas para a ampliação do aeroporto da Horta, projecto que espero que a nova Direcção não deixe cair, e que através do Conselho de Ilha do Faial, será entregue ao Senhor Presidente do Governo Regional.

Todo este esforço teve obviamente resposta no espírito associativo e no crescimento do número de empresas associadas, aumentando a nossa representatividade e sentido de responsabilidade.

 

O que acha que mudou nestes últimos anos no nosso comércio?

O nosso grande esforço foi no sentido da modernização, qualificação e expansão. Ao nível da modernização, conseguimos que muitas empresas se apetrechassem, quer em infra-estruturas, quer em equipamento moderno, ao abrigo dos diversos sistemas de incentivos - URBCOM e SIDEL. Ao nível da qualificação, promovemos seminários e protocolos de cooperação, que permitiram às empresas evoluir no seu modo de actuação. A expansão também foi um grande objectivo no sentido de incentivar as empresas a alargarem o seu mercado para além da ilha, de modo particular, aproveitando a proximidade das ilhas do Triângulo.

Mas muito mais poderia e deveria ter sido feito, verificamos que determinadas oportunidades que poderiam ser criadas pelo município não avançaram, infelizmente, e outras, que teria mais lógica serem efectuadas em parceria, pura e simplesmente nalguma altura do processo parecia que esta instituição centenária era invisível aos olhos do poder municipal. O facto mais flagrante é a actual zona industrial de Santa Bárbara ter sido quase abandonada. A título de exemplo, note-se que os banhistas da Praia do Almoxarife têm acesso a internet sem fios, medida que poderia ter sido facultada aos empresários mas não foi. A expansão da zona industrial, permitindo mais investimento e mais fundos comunitários, continua pasto. Isto é, o nosso comércio poderia estar muito mais desenvolvido se houvesse uma política virada para o desenvolvimento económico como gerador de emprego e riqueza.

 

Que dificuldades encontrou na prossecução das suas tarefas?

A Câmara do Comércio, como parceiro social que é, conseguiu diversos feitos a nível regional, nomeadamente com diversos departamentos do Governo Regional. Contudo, esta parceria que deveria ser salutar e sinónimo de sinergia e de factores de confiança positiva e de espírito de equipa não foi, em certos casos, conseguida. Nomeadamente no caso da Horta, onde nos foi taxada a derrama, que é um imposto municipal extraordinário, sem qualquer acréscimo de oportunidades visíveis e sustentáveis para os empresários locais. Outra dificuldade prende-se com a lentidão da entrada do quadro de referência estratégico que obrigou a Câmara do Comércio a cumprir o seu plano de actividades sem margens para crescimento.

 

O que faltou fazer?

O objectivo menos atingido foi o da formação de activos. O código do trabalho exige que a entidade empregadora disponibilize trinta horas de formação por ano a, pelo menos 10%, dos seus activos. Para além desta obrigação legal, existe um mercado de formação que a Câmara do Comércio deveria ocupar e oferecer esse serviço aos seus associados, com efeitos na sua produtividade e rentabilidade. Contudo, correram menos bem as parcerias, restando à Câmara do Comércio adoptar uma solução isolada e independente, mas que representava um esforço financeiro difícil de suportar na actual conjuntura. Ainda assim, realizámos diversos seminários, workshops, e sessões de esclarecimentos sobre diversas matérias. Mais importante foi deixar à nova Direcção o processo de acreditação da Câmara do Comércio como entidade formadora ao nível do Fundo Social Europeu, meio caminho andado para um bom desempenho do actual elenco directivo nesta matéria de primordial importância.

 

Como está a situação da sede?

A Câmara do Comércio cresceu muito rapidamente nestes últimos anos e por isso necessita de ampliar o seu espaço sede. Deixámos o projecto de arquitectura pronto, que tem como objectivos concentrar todos os serviços daquela Associação, contempla assim a ampliação, com abertura para o público na rua principal da cidade, tornando-a mais eficiente para os associados, criando mais polivalência.

Outro grande objectivo é o da consolidação do edifício ao nível estrutural, para dar segurança e estabilidade para o futuro num imóvel de elevada beleza arquitectónica da nossa cidade.

 

O que mais preocupa os comerciantes?

Para responder duma forma estruturada à sua pergunta talvez se justificasse, devido à sua complexidade, uma só entrevista. Sintetizando, as grandes preocupações dos nossos comerciantes são a concorrência desleal, a falta de oportunidade oferecida e principalmente um divórcio entre o mundo empresarial e o sector público, que quer ao nível autárquico, quer ao nível governamental, tem privilegiado o gasto público em vez do investimento reprodutivo. Principalmente nestas fases em que economia está em recessão há um sentimento que se não houver os investimentos mais multiplicadores, como é a ampliação do aeroporto da Horta, a confiança no futuro próspero estará comprometida.

 

Porque não ficou para um terceiro mandato? Isso prende-se com o seu futuro político como muito se tem especulado?

É preciso não esquecer que assumi a presidência da Direcção da Câmara do Comércio quando havia um vazio directivo e uma ausência de projectos, isto é numa situação de particular excepcionalidade, em que consegui, com a minha equipa e quadros técnicos, e com o apoio dos associados, colocar a Câmara do Comércio na lista dos parceiros sociais e ser um agente de dinamização económica. Saio com a percepção que esses objectivos foram alcançados com isenção e independência político-partidária.

Obviamente que gostaria de acompanhar, daqui a uns meses, as obras na sede e de ver a formação em curso, mas o mais importante é a obra e é a instituição, a qual está muito bem entregue à nova Direcção, à qual desejo votos de muito sucesso.

Após esta etapa, pretendia dedicar-me às minhas empresas e àquelas de que sou consultor, promovendo a realização de investimentos que iriam gerar mais emprego na nossa ilha. Contudo, o facto de ter sido líder de uma instituição que defendeu o Faial, o de ter formação em gestão de empresas, fez com que muitas pessoas de várias faixas etárias, de diversas profissões e até de quadrantes políticos distintos manifestaram interesse em que continuasse a contribuir para a sociedade. Esse facto tornar-se-á possível com o recente convite do Arquitecto Paulo Oliveira para contribuir para um projecto ambicioso de desenvolvimento económico e social da Ilha do Faial. A minha colaboração marca a minha entrada, pela primeira vez, na vida política, onde pretendo abraçar este projecto como tenho feito com outros, de corpo e alma.

 

 

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