Nascido do Magma…

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008


“Desgrenhado e semi-nu um grupo de crianças, coberto de pó e caliça, chorava, convulsivamente, ao derredor de uma mulher, ainda jovem, que, petrificada, olhar esgazeado, perdido na imensidão do nada, sentada sobre uma soleira de basalto, comprimia, no seu colo e contra o peito, uma criança de uns cinco anos, inerte, sem vida, rosto e corpo ensanguentados, fazendo lembrar, na angústia do quadro envolvente, a Pietá de Miguel Ângelo”.


“Nascido do Magma” é assim que se intitula a mais recente obra de Ruben Rodrigues, professor, jornalista, escritor… enfim… um homem das letras da nossa praça.
Como o mesmo diz na nota sobre o livro impressa na contra-capa, “a dureza do quotidiano, pautada por uma luta insana pela sobrevivência, não permitia mais devaneios do que aqueles que aconteciam por altura das vindimas, da matança de porco, da festa da padroeira ou do Espírito Santo…”
“Nascido do Magma” é a base da nossa vida, foi do magma que veio do fundo do mar que se formou a ilha, a ilha que acomodou todas as nossas gentes” – explica-nos o autor aquando uma sua visita à nossa redacção.
De acordo com Ruben Rodrigues este é um romance, com uma pitada de ficção e também de algumas memórias, “é no fundo a minha visão do que tem sido um povo arquipelágico nomeadamente das ilhas do Faial e do Pico”.
Esta obra demorou cerca de um ano e meia a ser preparada e foi “como que uma fuga e uma tentativa de tentar encontrar alguns momentos de repouso, sem nunca esquecer o motivo pelo qual vivo a minha angústia”.
O autor tem entre mãos mais duas obras: “Ilha do Faial – Século XX”, com nótulas históricas sobre as suas principais crises sísmicas e “O Professor”, um livro de ficção e memórias.
Sobre o primeiro diz ao Tribuna das Ilhas que “está praticamente concluído e é de referência histórica. É um recolher de notas que estão dispersas pela comunicação social sobre o assunto e que tem ainda entrevistas a emigrantes do tempo do vulcão, entre outras coisas.”
“O Professor” “será baseado na minha experiência de professor de ensino primário e mostrará algum do meu calcorrear pelos meandros do ensino.”
A obra agora editada pretende ainda ser um instrumento de ajuda a todos aqueles que se dedicam à investigação e que nem sempre têm como obter informações sobre as consequências económicas e sociais resultantes destas crises.
A edição do livro, cuja impressão foi feita pela empresa “O Telegrapho”, foi feita a totais expensas do autor, “entendi que se quero escrever um livro ou tenho que ter capacidade económica para o lançar e não ter que ter constrangimentos em pedir apoios… entendo que a cultura não tem que ser vivia à base de subsídios. Optei ainda por não fazer uma cerimónia de lançamento porque de certo modo é um convite a que comprem o livro mesmo sem quererem... foi pura e simplesmente posto à venda numa montra”.

O autor: Ruben Rodrigues nasceu a 16 de Novembro de 1934 na cidade da Horta. Frequentou a Escola do magistério Primário do mesmo burgo, tendo exercido no Faial, Pico e Terceira. Em 1996, a residir na Madalena do Pico, passou a integrar os quadros da Fundação Calouste Gulbenkian.
Na década de 7 foi eleito, por uma maioria do Conselho Municipal, vereador do Município da Madalena. Após a Revolução dos Cravos integrou a Comissão Administrativa da Câmara Municipal da Horta e mais tarde, inteirou um Conselho Municipal. Em 1993, encabeçando, como independente, a lista do Partido Socialista, foi eleito Presidente da Assembleia Municipal.
Foi co-fundador e primeiro presidente da direcção do CRP Madalena do Pico. Na Horta assumiu o cargo de presidente da direcção do Angústias Atlético Clube durante quatro anos.
No jornalismo colaborou no “O Dever”; “Correio da Horta”, “Açores”, “Bom Combate”, “O Telegrafo”, “Rádio Clube d’Angra”, “RDP-Açores”, “RTP –Açores”. Exerceu o cargo de director do matutino “O Telegrafo” e do vespertino “Correio da Horta”.
Foi distinguido pelo Município da Horta com o diploma pelo seu papel na promoção de um jornalismo de defesa intransigente dos direitos do Faial. No Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, foi-lhe conferido, pelo presidente da República, Jorge Sampaio, o Grau de Oficial da Ordem de Mérito.

0 comentários: