Marca de Água - Sónia Cardoso uma amante da bijuteria artesanal

quinta-feira, 25 de setembro de 2008


Sónia Cardoso tem 21 anos, natural da freguesia dos Flamengos e, desde 2004 que reside no Porto. Está, no momento, a frequentar o 5º ano do Mestrado Integrado em Psicologia na Universidade do Porto. Os seus interesses passam, não só pela bijuteria artesanal, mas também pela poesia, fotografia, o cinema e claro pelas diferentes áreas da Psicologia.
Durante as Festas de Verão da freguesia dos Flamengos expôs os seus trabalhos. Tribuna das Ilhas visitou o seu stand e, face à originalidade, inovação e charme das peças conversou com a jovem. As suas peças podem ser vistas no blog : www.marcadeagualoja.blogspot.com.



Tribuna das Ilhas - Como surgiu o gosto pela bijuteria?Sónia Cardoso - O gosto pela bijuteria artesanal surgiu em 2004 no momento em que me mudei para o Porto. Passei a frequentar, como visitante, as várias Feiras de Artesanato Contemporâneo, para fugir ao comércio de massas, e acho que isso mudou a minha forma de encarar o Artesanato em geral. Descobri que o artesanato pode ter um carácter adaptativo, que pode ser reinventado e modernizado. O meu primeiro contacto com a bijuteria artesanal deu-se precisamente nestas feiras. O interesse foi quase imediato quando percebi que poderia fazer peças inteiramente ao meu gosto, que poderia recriar as ideias que tinha e que achava difícil de encontrar nas lojas em geral.

T.I. - Como e quando começou a fazer as suas peças?

S.C. - Apesar do interesse ter surgido em 2004 apenas no Verão de 2007 comecei a fazer as minhas primeiras peças. Aproveitei o tempo livre das férias e procurei saber mais sobre a bijuteria artesanal. Descobri um pequeno sub-mundo virtual de artistas talentosas que exponham os seus trabalhos online, normalmente em blogs. Passei então a acompanhar os seus trabalhos, a participar em fóruns de artesanato, a pesquisar materiais, a comprar livros sobre a temática. Costumam perguntar-me se frequentei workshops ou se alguém me ensinou a trabalhar os materiais. Na verdade, fui uma autodidacta desde sempre. Quando senti que estava preparada para começar, arrisquei e a partir daí fiquei viciada e comecei também a viciar a minha mãe que agora me ajuda a fazer algumas peças.

T.I. - Como tem sido a integração no mercado?
S.C. - Primeiramente a integração no mercado estava apenas ligada ao meu blog marcadeagualoja.blogspot.com. Foi lá que comecei a expor os meus trabalhos, a “ouvir” os primeiros elogios e a receber as primeiras encomendas. Só depois é que revelei esta faceta à família e amigos que começaram a comprar e divulgar. Á medida que as encomendas do blog aumentavam comecei a receber convites para participar em feiras e como a aceitação foi muito boa continuei.

T.I. - Recentemente teve os seus trabalhos expostos na Festa dos Flamengos. Foi a primeira vez que isso aconteceu ou tem exposto em mais locais?

S.C.- Já havia participado numa feira no Porto e tinha imensa vontade de mostrar os meus produtos também na minha terra natal. Contudo, a Feira tinha de ser numa altura em que estivesse presente na ilha e tal só era possível durante as férias. Decidi então que a minha primeira Feira no Faial teria de ser na minha freguesia e quando surgiu esta oportunidade não hesitei. A experiência foi óptima e com certeza que vou repetir. A Feira é excelente para um contacto mais próximo com os clientes e é sempre incrível o que se aprende com as opiniões das pessoas, com as suas reacções, com os elogios e as críticas. Nesta feira não tive a oportunidade de levar os meus materiais e trabalhar nas peças em frente ao público mas espero poder fazê-lo num futuro próximo. Muitas vezes duvidam que as peças que estão expostas são mesmo feitas à mão.

T.I. - Como tem sido a receptividade das pessoas?

S.C. - A receptividade das pessoas tem superado as minhas expectativas desde o primeiro momento. As pessoas elogiam os trabalhos e identificam-se com eles e depois acabam por querer participar também no processo criativo e opinam, pedem-me peças em outras cores, sugerem modelos, fazem encomendas especiais. Tenho a preocupação de também fazer peças que abranjam um público variado, que sirvam vários tipos de gostos e necessidades e isso é importante para que as pessoas se identifiquem com o meu trabalho. Uma área que comecei a explorar a pouco tempo foi a infantil e tem tido uma receptividade incrível.

T.I. - Que materiais e técnicas utiliza?
S.C. - Nas minhas peças utilizo uma enorme variedade de materiais e ando sempre a testar novas formas de os combinar entre si. Contudo, há materiais que tento evitar como é o caso do plástico. Existem muitas lojas que vendem peças de bijutaria feitas com plástico e por isso prefiro usar materiais mais sublimes que distingam as minhas peças. Uso correntes, contas de vidro, metais, vários tipos de pedras semi-preciosas, madrepérola, cristal checo, swarovski, lampwork, silverfoil, olho de gato, millefiore, crochet, rendas dos Açores, cetim … Os materiais que uso mais são sem dúvida as contas de vidro e o cristal checo. Tenho também a preocupação de inserir um pouco da cultura açoriana nas peças e daí utilizar as nossas rendas, que são muito apreciadas. Quanto a técnicas acho que a bijutaria nesse aspecto é bastante livre. Não há nenhuma técnica em específico, são os materiais que ditam a utilização, por exemplo, peças leves e pequenas para brincos, contas mais redondas para pulseiras para não incomodar por exemplo na escrita. Diferentes peças são executadas de forma diferente mas há sempre uma linha condutora que é ditada como já referi pelos materiais. Existem sim esquemas ou projectos “passo a passo” mas nunca utilizo este recurso, isso significava que a peça que estou a fazer não surgiu inteiramente da minha imaginação.

T.I. - É fácil conseguir os materiais?
S.C. - De facto, essa é a parte mais difícil e a que requer um maior investimento de tempo e recursos. Fazer as peças é um vício que se aperfeiçoou com a prática. Procurar os materiais certos é sempre uma jornada. Dedico muitas horas por dia na pesquisa (ao computador) de materiais diferentes que não se encontrem noutros locais e que tenham preços apelativos à comercialização. Juntar estas duas facetas é muito complicado. Em Portugal não compro praticamente, compro materiais praticamente por todo o mundo, em pequenas quantidades, em lojas alternativas e prefiro assim porque também é isso que torna cada peça especial e única.




T.I. - Que objectivos tem para a Marca de Água no futuro?


S.C. - É difícil falar em objectivos, acho que prefiro usar a palavra desejos. O meu primeiro desejo é que a receptividade das pessoas se mantenha e que estas continuem a apreciar os meus trabalhos. Quero também arranjar mais formas de contacto com as pessoas e isso passa não só por continuar com o trabalho que tenho feito no blog mas também aumentar a minha participação nas feiras de Artesanato. Gostava de poder partilhar o que aprendi a quem se interessasse, especialmente às crianças. Gostava que as pessoas se apaixonassem pela bijutaria artesanal como eu me apaixonei e que também a compreendessem melhor. Para isso penso que trabalhar à frente do público nas feiras é essencial e também tenho em mente um novo projecto que se vai chamar “ O BI da sua peça” e que julgo que poderá potenciar esse conhecimento. Trata-se de dar à pessoa, juntamente com a sua peça, uma descrição dos materiais utilizados, das zonas do mundo de onde estes vieram, possivelmente até de onde surgiu a inspiração para aquela peça. Tudo isto para sublinhar a mensagem de que a bijutaria artesanal é marcada por peças únicas, exclusivas, peças com história que se distanciam do “comércio de massas”.

0 comentários: