V Seminário de Saúde Infantil

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Realizou-se pelo quinto ano consecutivo, na cidade da Horta, o Seminário
de Saúde Infantil, nos dias 28, 29 e 30 de Maio.
Numa organização do Centro de Saúde da Horta, este Seminário foi destinado a
médicos, enfermeiros, professores, educadores de infância, assistentes
sociais e psicólogos, e debateu temas como a adolescência, saúde escolar,
patologias pediátricas, imunização e vinculação afectiva.
O seminário teve início com uma mesa redonda alusiva à gravidez na
adolescência, com intervenções de Pedro Cosme, médico obstetra do Hospital
da Horta e Nídia Neves e Paula Bettencourt, internas de Medicina Geral e
Familiar do CSH.
Nídia Inácio veio falar das “Preocupações dos pais na actualidade” e Manuela
Correia, do Instituto da droga e da Toxicodependência da Direcção Regional
de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo fez uma apresentação sobre o seu estudo
denominado “Uma Viagem aos Afectos na Adolescência”. Neste mesmo dia foi
apresentado o projecto “Escola de Pais – finalidades e objectivos”.
No segundo dia de trabalhos o tema central foi a “Saúde Escolar”, que
abordou ainda os hábitos alimentares e o papel das cantinas e bares
escolares na promoção da saúde infantil. A tarde foi preenchida com o tema
“Patologias Pediátricas” em que foi discutida a “Luxação Congénita da Anca”
e a “Criança Diabética”. A vacinação e o plano nacional foram também alvo de
debate, na mesa redonda denominada “Imunização”.
O último dia abordou a “Vinculação Afectiva” e ficou marcado pela
intervenção da jovem Cláudia Abrantes, aluna do 11.º ano da Escola
Secundária Manuel de Arriaga, que veio falar da sua experiência enquanto
doente oncológica. Neste painel participou ainda a pediatra do Hospital da
Horta para discutir o “Leite Materno”, e Carla Gomes, do Oceanoscópio, que
veio mostrar como “Comunicar através do toque”.
Na sessão de abertura deste seminário, a directora regional da Saúde, Teresa
Brito, garantiu que as acções de vigilância na saúde infantil e juvenil,
pertinentes e de qualidade, têm um “impacto indiscutível” na vida das
crianças.
Segundo sublinhou na ocasião, a saúde não depende, porém, somente da
prestação de cuidados, uma vez que a “influência do ambiente social,
biofísico e ecológico é também determinante”.
Para Teresa Brito, o apoio às crianças com necessidades especiais, em
situação de risco ou especialmente vulneráveis, a redução das desigualdades
no acesso aos serviços de saúde e o reconhecimento dos pais como primeiros
prestadores de cuidados “são aspectos prioritários”.
Lembrou, ainda, que o aumento do nível de conhecimentos e de motivação das
famílias, a par da melhoria das condições de vida, “favorecem o
desenvolvimento da função parental e tornam possível que os pais e a família
a assumam, como direito e dever, competindo aos profissionais facilitá-la e
promovê-la”.
Disse também que alimentação e saúde infantil constituem problemática actual
e fundamental, na medida em que a “aquisição dos hábitos alimentares resulta
da obtenção de competências e saberes na infância, com reflexos na melhoria
da qualidade de vida ao longo de todo o ciclo vital”. “As crianças não
possuem capacidades inatas que lhes permitam uma escolha discernida dos
alimentos”, sublinhou a directora regional, adiantando que essa opção
resulta da “simples apreensão proveniente da experiência, observação e
educação”.
Nesse âmbito, “o papel de todos nós, enquanto gestores, profissionais de
saúde, pais e educadores, assume uma preponderante importância na produção
de práticas condizentes a uma alimentação correcta, equilibrada e completa”,
observou Teresa Brito.
Tribuna das Ilhas teve oportunidade de conversar com Manuela Correia, que
trouxe à Horta um filme no qual conversa com vários jovens que falam de como
vivem os afectos. “A maioria dos intervenientes nesta película são jovens de
14 anos e depois desta conversa concluiu-se que, por um lado, os
adolescentes, na relação quer com os pais, quer com os pares, se processa
uma alteração na vivência dos seus afectos, e quer os pais quer os pares são
muito importantes nessa maturação. Por outro lado, concluiu-se que a
vivência dos afectos é extremamente importante porque vai permitir formar um
conjunto de valores na linha humanística que são fundamentais. Pode dizer-se
que os sistemas onde os adolescentes vivem deviam primar por uma educação
pelos afectos, em que a confiança, o respeito pelos outros, a ética de
conduta e os valores são fundamentais.”
Manuela Correia deixou ainda a mensagem de que “era importante que os
adultos e os educadores estejam mais atentos e ouçam mais os adolescentes.
No geral não se caminha no bom sentido, porque, do meu ponto de vista, hoje
em dia fala-se muito da crise de valores, e eu não sei se há essa crise ou
se há uma dificuldade em passar esses valores e isso depois trás
repercussões nos seres humanos que estão a fazer a sua maturação, neste caso
os adolescentes”.
Outra questão que os adultos referem e que aponta para esta crise actual
prende-se com a tão aclamada “falta de tempo”. Sobre isso Manuela Correia
sublinha que “penso que não é falta de tempo… É a falta de estabelecer
prioridades e com a qualidade do tempo que se tem para estar com os filhos.”
Fátima Porto, presidente da Comissão Organizadora deste evento, disse ao
Tribuna das Ilhas que a comissão está satisfeita porque cumpriu os seus
objectivos. “O nosso seminário começou há cinco anos numa pequena reunião, e
hoje assume esta dimensão, envolvendo profissionais de vários locais e
áreas. Começámos por discutir apenas a alimentação, mas com o passar dos
anos introduzimos novos temas que estão de certo modo relacionados com
isso”, esclareceu.
Instada a pronunciar-se sobre a evolução do seminário, Fátima Porto entende
que “houve uma mudança. Começou a haver uma maior preocupação e cuidado nas
escolas em envolver alunos, professores, nutricionistas e cozinheiros. Se a
esse nível estamos a melhorar, há aspectos ainda preocupantes, como seja o
estilo de vida sedentário. Os jovens não fazem exercício estão acomodados
com os computadores e a televisão. É preciso insistir e que as próprias
pessoas tenham vontade de mudar.”
Fátima Porto focou ainda a palestra que veio desmistificar a abordagem da
gravidez na adolescência: “percebeu-se que há uma diminuição dos casos, o
que é bom, porque é a altura em que há que pensar e construir um futuro”.
A presidente da Comissão Organizadora referiu ainda à nossa reportagem que
“tendo em conta que o tema base deste seminário foi os afectos convidámos a
jovem Cláudia a vir cá, depois de termos estado na Escola a ouvir o seu
testemunho. Fiquei chocada e encantada, e achei que numa mesa de vinculação
afectiva, uma experiência de vida que tinha por detrás muito afecto dos pais
e da família, seria a chave de ouro para fechar este seminário.”
No que diz respeito às conclusões deste seminário, Fátima Porto salienta que
é preciso ter em mente que “é muito importante ter uma boa alimentação,
mudar estilos de vida e envolver todos neste processo.
Os pais são os principais motores deste desenvolvimento e tem que haver uma
congregação de esforços com as escolas. A nível dos afectos, conclui-se que
é muito importante para o crescimento e é preciso haver comunicação entre
pais e filhos. Há que respeitar os adolescentes que, querem ver nos pais o
Pai e a Mãe como referências porque amigos têm muitos.”

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