David Yudovin vai atravessar o Canal Faial-Pico a nadar

sexta-feira, 7 de março de 2008


Uma vida dedicada ao mar. Até o apelido pode ser pronunciado como “You Dove In” (mergulhas)...


David Yudovin tem 57 anos, é natural da Califórnia. Actualmente está reformado, mas dirigiu a sua própria empresa de armazenagem, transporte e distribuição e Seafood e é mundialmente famoso pelas suas travessias marítimas a nado.
Desde o Canal da Mancha, o Estreito de Gilbraltar, o Estreito de Cook na Nova Zelândia, o Estreito de Sunda na Indonésia, o Estreito de Tsugaru no Japão, este simpático homem já nadou em tudo o quanto é sítio.
O seu próximo objectivo passa por fazer a travessia entre o Canal Faial-Pico e quem sabe, ligar a nado as ilhas do Pico a São Jorge e por ai adiante.
David Yudovin esteve no Faial 3 semanas, onde encetou vários contactos nesse sentido, e volta a 15 de Agosto para iniciar a sua tentativa. Neste momento está na Califórnia, mas daqui a três semanas estará no Tahiti para mais uma prova.
Tribuna das Ilhas conversou com este americano e ouviu um pouco da sua história de vida e dos seus objectivos para o futuro.
A sua mulher Beth Yudovin é a sua treinadora. Já passou alguns sustos, mas apoia o marido nesta sua vontade. Na Indonésia teve um ataque cardíaco e durante mais de uma hora o seu coração parou. Todos o julgavam morto, mas voltou a si.


Tribuna das Ilhas – Vai tentar fazer a travessia do Canal Faial-Pico a nadar. Porque escolher o Faial para mais este desafio?
David Yudovin – É uma história muito interessante… nadei por todo o mundo, em diferentes países e diferentes Canais. Em 1999, um navio porta-contentores trouxe-nos como passageiros desde Valência até Nova Iorque e passamos muito perto dos Açores. Quando passámos perto dos Açores a água estava tão bonita, haviam golfinhos, baleias e tartarugas e senti que tinha que voltar. Durante este tempo fizemos alguma pesquisa no sentido de equacionar a possibilidade cá vir. Agora, depois do conhecimento adquirido, vim cá para estabelecer contactos com pessoas que conhecem bem o canal e organizar isso mesmo. Quero começar por fazer a ligação Horta – Madalena, e, se o tempo o permitir, fazer o percurso inverso um ou dois dias depois. Também gostava de ligar o Pico a São Jorge. Depois disso decidirei se continuarei a perseguir outros objectivos.

T.I. – Ao que se sabe somente duas pessoas fizeram esta travessia. Está preparado para este desafio?
D.Y. – De acordo com informações que me foram transmitidas as duas pessoas que fizeram esta travessia usaram fatos e barbatanas. Eu vou para a água somente com os meus calções, óculos e uma touca. Nado de acordo com as normas americanas.

T.I. – Vai tentar alcançar algum record para o Livro do Guiness?
D.Y. – Nunca enveredei por esse caminho porque é algo que requer muita burocracia e não o faço para auto-promoção, mas sim porque é algo que adoro.

T.I. – E porque a natação e não outro desporto?
D.Y. – Desde muito cedo que sempre senti uma enorme atracção pelo mar e pela água. Aos seis anos integrei uma equipa de natação. Sempre que entro na água sinto uma magia indescritível, sinto que é o meu céu, o meu espaço. Tenho uma carreira ligada à natação já longa, mas sinto que agora estou melhor que nunca.

T.I. – E porque nadar em mar aberto? Não seria mais simples nadar em piscina?
D.Y. – No fundo, eu gosto é de nadar, mas quando viajo para nos lugares gosto de explorar novas águas e novas áreas. A relação que crio com as pessoas que me ajudam a atingir os meus objectivos é o mais proveitoso disto tudo e nunca o conseguiria se nadasse numa piscina. O turista normal chega, visita os pontos de interesse turístico, vai ao restaurante, compra um souvenir e pronto. Eu não… criam-se laços de amizade tão grandes com estas pessoas que eu considero-os como família. A nossa casa está sempre aberta a essas pessoas…

T.I. – No entanto, sabemos que já nadou nas águas açorianas. E que tal?
D.Y. – Pelo que vi as correntes são muito fortes, mas de acordo com as pessoas com que falei, pescadores e homens ligados ao mar, se for bem planeada a travessia, tem tudo para dar certo. Temos que conjugar as luas com as marés. As condições meteorológicas também têm que ser tidas em linha de conta, mas em Agosto penso que o tempo não será má altura.

T.I. – E porquê só vir a 15 de Agosto quando na primeira semana temos o maior festival náutico do Pais?
D.Y. – Atendendo a que o Clube Naval da Horta é o meu principal apoiante, e que nesta altura tem uma série de eventos agendados, tal não é possível. Não lhes posso pedir para me cederem do seu tempo na altura em que estão mais ocupados.

T.I. – E o que achou da ilha do Faial?
D.Y. – O Faial é muito parecido com o local onde vivemos. A latitude é a mesma, o tempo é semelhante. Vivemos numa comunidade balnear, temos vizinhos açorianos, o tempo é semelhante, logo sentimo-nos em casa…

T.I. – E como é ser treinadora do seu marido?
D.Y. – Não é difícil porque ele está muito motivado. Sobretudo o meu trabalho é assegurar-me que durante a sua prova ele está bem. Observo cada movimento que ele faz para garantir que ele está no local certo, ver o tempo e a navegação do barco. Enquanto ele nada eu tenho que lhe dar líquidos, porque o esforço é muito e ele desidrata e também lhe dou umas barras de cereais. Acho que a minha principal função é preocupar-me.

T.I. – Para além de cá vir nadar, o David também vai apresentar algumas palestras para jovens. Que mensagem quer deixar aos jovens?
D.Y. – Principalmente quero motiva-los para a natação enquanto um desporto saudável. Enquanto crianças eles precisam ouvir alguém mais velho e com experiência. Provavelmente, terei a idade dos avós deles, então vão olhar para mim e pensar “como é que este velhote pode estar tão feliz por nadar. Como é que ele foi bem sucedido na sua carreira e em tudo na sua vida?”.


Em caixa:
Tanto quanto se sabe, terá sido pioneiro na concretização da façanha, o nadador americano S. A. Gustafson. Corria, então, o ano de 1926. No dia 2 de Agosto, partindo do Faial, o americano terá necessitado de 5 horas e 20 minutos para completar a travessia, aportando na fronteira ilha do Pico. Mr. Gustafsson teria quarenta anos e ocupar-se-ia como montador electricista da companhia Stone Webster, segundo o jornal «O Telegrapho».
Em 1929, encontrava-se em afincado treino o categorizado desportista faialense Manuel Azevedo Lima, visando alcançar um novo record da travessia a nado entre Faial e Pico. A 31 de Julho de 1929 teve lugar a aguardada iniciativa. A travessia terá decorrido “sem qualquer incidente tendo apenas passado um tubarão a cerca de 250 metros mas que nem se chegou a avisar o nadador de que ele ia passando, visto não haver perigo àquela distância. Sob o comando do Sr. Lucas, acompanharam-no duas canoas, uma do Sporting, e outra do Sr. Dr. Campos de Medeiros, que também o acompanhou.
A travessia das cinco milhas náuticas que separam a ilha do Pico do Faial foi efectuada no tempo de 3 horas e 6 minutos, no que constitui ainda o recorde desta travessia, nos termos em que foi realizada.

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